Por Marta Luciane
Fischer
Docente do Programa
de Pós-Graduação em Bioética PUCPR
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Seria cômico se não fosse
trágico! Nos últimos meses o sudeste tem vivenciado uma situação um tanto
atípica, a
real falta de água! Todos os dias os noticiários mostram os
reservatórios de água vazias, operando com menos de 5% de sua capacidade. De
lado a mídia ensina como economizar
água e energia elétrica, incentivado pelo aumento das tarifas; nas redes
sociais pipocam memes
e piadas com a falta de água; e o mercado consumista se aproveita da
situação explorando o comércio de água e de alternativas como
captadores de água da chuva. Os cidadãos se indignam e se mostram
surpresos, enquanto reportagens de 10 anos atrás relembram de obras que já deveriam
estar prontas. A bioética se consolidou com o médico Van Rensselaer Potter em
1971 alertando à sociedade a possibilidade de colapso ambiental caso o uso dos
recursos naturais não fosse repensado. Já naquela época de plena ascensão das indústrias,
ecologistas se posicionavam contra à crença de que os recursos naturais eram
infindáveis e que a natureza existia para o desfrute da humanidade. Assim, a
exaustão de recursos naturais somada com a poluição gerada exigia uma mudança
de paradigma da sociedade e uma visão mais realista para vulnerabilidade da
natureza. De uma ética Antropocêntrica o mundo clamava para uma ética Ecocêntrica
e pautada no princípio
da Responsabilidade exaustivamente trabalhada pelo filósofo Hans Jonas, que
insistia que o homem deveria mudar sua atitude com relação ao planeta e que as
consequências de suas escolhas deveriam levar em consideração não apenas a si,
mas todos os seres vivos, em presentes e futuras gerações.
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Dentro do universo da Bioética
Ambiental a água juntamente com o aquecimento global são as temáticas mais trabalhadas,
pois representam um problema global, complexo e com inúmeros atores e cuja
solução deve envolver a colaboração de diferentes áreas do saber e segmentos da
sociedade. A eminente “crise da água” é conhecida pela maioria das pessoas,
porém parece que é um problema distante que afeta a África, os desertos e no
máximo o sertão nordestino. As facilidades do mundo moderno permite abrir uma
torneira sem precisar se preocupar de onde a água vem e pra onde vai, gerando
atitudes cômodas e que conduzem ao desperdício. Somente em uma situação real de
crise, é que as pessoas se conscientizam e passam a mudar de atitude. Inclusive
se posicionando agressivamente contra o vizinho que é flagrado desperdiçando
água lavando a calçada. Eu me questiono se precisamos de fato chegar no limite
para alcançar a compreensão do risco. Atualmente é a água, mas será que somente
quando o racionamento de alimentos alcançar as grandes cidades, é que a
sociedade ira se dar conta do quanto desperdiça? Será apenas quando houver mais
energia, matéria prima e quem sabe até mesmo ar, é que se nos daremos conta das
nossas responsabilidades? De fato a humanidade está precisando urgentemente
rever seus valores e paradigmas. Não acredito que essa sociedade bem informada
e inserida num contexto biopsicosocialeducativo não seja capaz de construir um
mundo melhor para todos. Comungo plenamente das ideias de Bauman que mostra que já
não é mais possível vivermos em uma sociedade liquida, com relações liquidas,
com pessoas liquidas que levam uma existência sem sentido, na busca de se
realizar nos produtos consumidos e valorizando uma vida egoísta, individualista
e momentânea. Somos uma espécie cooperativista, foi assim que chegamos até esse
ponto da evolução. Concordo que desde o início da nossa jornada na Terra desperdiçamos
muito, mas acredito que somos capazes de retomar uma existência mais digna para
nossa espécie e para todos os outros seres vivos.
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